PRODUÇÃO DE QUEIJO ARTESANAL ESTÁ ATÉ 100% MAIS CARA EM MINAS

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Premiado internacionalmente e reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), o queijo minas artesanal é um dos destaques da culinária mineira. O processo produtivo da especiaria, no entanto, vem enfrentando dificuldades, desde o segundo semestre de 2020, com a alta nos preços de insumos utilizados para a produção e embalagem e no transporte dos queijos.

A elevação nos valores em alguns casos chega a 100%, segundo os produtores. Os grandes vilões são a soja e o milho. Utilizados na alimentação do gado como base para produção de leite, os dois produtos chegaram a dobrar de preço. Para se ter ideia, segundo estimativa da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), os custos somente para alimentar o rebanho tiveram um salto aproximado de R$ 4 mil para R$ 9 mil desde setembro do ano passado.

Além disso, embalagens de papelão que antes custavam R$ 0,80 centavos a unidade chegaram ao valor de R$ 1,80. "E ainda temos os custos com combustível para o transporte dos queijos, de manutenção dos maquinários nas fazendas, de compra dos outros insumos como o coalho, contas de água e luz", afirma o gerente executivo da Aprocan, Higor Freitas.

A saída encontrada pelos produtores para manter as vendas foi diminuir a margem de lucro e não repassar a totalidade dos valores gastos aos lojistas e consumidores. "Não podemos elevar o preço demais, se não o mercado não absorve esses valores e a situação piora. Pelo menos os queijos ainda têm uma procura muito boa", acrescentou Freitas.

O cenário é vivenciado por Ademilson Marcos da Silva, de 36 anos. Morador de Alagoa, no Sul de Minas, ele trabalha na produção de queijos há duas décadas e acredita que a situação não deve apresentar melhoras em um curto espaço de tempo. "2022 pode ser ainda pior que este ano, porque os preços continuam subindo muito", salienta.

De acordo com o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado de Minas Gerais (Silemg), o aumento nos custos de produção também ocorre em um período de redução no poder aquisitivo da população. Para Celso Costa, diretor executivo da entidade, o ponto mais frágil da cadeia produtiva hoje são os pequenos produtores, que têm gastado muito mais do que a arrecadação com os produtos.

"O momento é de cautela e cuidado para que os produtores consigam manter a estabilidade financeira. Toda a cadeia do leite, desde o pequeno produtor até a indústria, passa por um momento de muito aperto", observa.

A coordenadora técnica de bovinocultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater), Tânia Rabello, disse que a instituição tem atuado junto aos produtores com orientações sobre práticas que podem reduzir os gastos com produção mantendo a qualidade dos queijos.

Ela afirma que cerca de 60% dos custos totais são com a alimentação do gado. "Uma alternativa que a gente sempre orienta é investir mais na produção de alimentos volumosos como a silagem, em substituição ao milho, cevada e até mandioca", explicou.

AUMENTO DEVE AMENIZAR PREJUÍZOS NOS PRÓXIMOS MESES

Responsável por fazer o queijo que levou a medalha de bronze no concurso mundial de queijos na França, neste ano, José Orlando Ferreira, de 59 anos, acredita que o grande desafio dos produtores de queijos artesanais é manter, mesmo com os suplementos em alta, a alimentação do gado para garantir um bom volume de leite e os estoques de queijo para comercialização. Na avaliação dele, um aumento no preço da especiaria será necessário em breve.

"A situação está difícil, mas ainda vamos controlando. Mas vai chegar em um ponto que vamos ter que repassar, aos poucos, e ver como será a aceitação final do consumidor", avisa. Para evitar um aumento, o presidente da Associação de Produtores de Queijo do Serro, José Ricardo Ozólio, adota medidas paliativas para produzir um dos mais tradicionais queijos do Estado. "Estamos plantando uma grande quantidade de milho, soja e palma para alimentar o gado. Vamos buscar alternativas para baratear o nosso processo", contou.

AMEAÇA

Presidente da Associação dos Produtores de Queijo Artesanal do Campo das Vertentes, Mariana Resende, acredita que mesmo com as dificuldades enfrentadas, a qualidade dos produtos vai se manter inalterada. Ela, porém, faz um alerta sobre a possibilidade de Minas Gerais perder o protagonismo em relação à produção de queijos artesanais por não possuir uma legislação adequada ao pequeno produtor. "Nós obedecemos às mesmas regras de grandes laticínios sendo que o volume de produção é muito menor. É uma situação desproporcional", critica.

Resende ainda complementa dizendo que outros Estados estão avançando no assunto, mesmo sem não ter a mesma tradição de Minas. A reportagem questionou a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) sobre as queixas. A pasta disse, em nota, que trabalha para modernizar a regulamentação do setor no Estado. Veja, abaixo, o comunicado na íntegra:

"O Governo de Minas vem dando passos importantes na modernização da regulamentação dos queijos artesanais do estado, atendendo demandas históricas do setor produtivo mineiro.

Em agosto de 2020, por exemplo, foi publicada regulamentação que deu embasamento legal para a produção de queijos com leite de outras espécies, como cabra, ovelha e búfala. Esse decreto reconhece oficialmente novas técnicas para produção ou maturação dos produtos.

No entanto, é preciso observar que diversos parâmetros microbiológicos para a regularização de produtores de queijo artesanal são definidos a partir da legislação federal.

O Governo de Minas tem trabalhado, a partir do diálogo com instituições de pesquisas, produtores e órgãos dos poderes executivo e legislativo federal, por uma modernização na legislação federal. A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento reforça que produtor de queijo artesanal pode contar com o Sistema Agricultura para buscar a sua regularização.

Para isso, ele deve procurar o escritório local da Emater-MG e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) para receber orientações sobre as boas práticas de manejo do rebanho e da fabricação do queijo, além dos procedimentos necessários para a adequação das queijarias e a regularização da atividades.

20 milhões de brasileiros ainda não se vacinaram contra a Covid

A vacinação contra a Covid ganhou boa adesão da maioria da população brasileira, mas ainda há um percentual de pessoas não imunizadas a serem engajadas em nome da imunização coletiva, para garantir que o país não vivencie um novo pico da epidemia, como acontece na Europa. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) estima que cerca de 20 milhões de brasileiros com mais de 12 anos ainda não receberam nenhuma dose.

Em Minas, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), 1.686.244 de adultos e 537.300 de adolescentes ainda são aguardados para tomar a primeira dose. Para que as prefeituras possam alcançar essas pessoas, a orientação é fazer busca ativa, extensão do horário de funcionamento em salas de vacina e reforço na comunicação.

Para Juarez Cunha, presidente da SBIm, é fundamental que poder público se esforce para mobilizar os faltantes para incrementar o máximo possível a cobertura vacinal. Hoje o Brasil tem 61% da população com esquema vacinal completo, bem abaixo dos 85% de Portugal – país que decidiu pela volta da obrigatoriedade de máscara em espaços fechados por causa da escalada de casos na Europa.

"Temos criticado muito o Ministério da Saúde por não realizar campanhas publicitárias contínuas, não só da vacina da Covid, mas também de outras. Temos que usar todos os meios possíveis que a internet oferece para levar informações confiáveis para as pessoas", afirmou o médico. "Quando uma pessoa procura o sistema de saúde é fundamental que o profissional detecte se ela não foi vacinada e conversar sobre isso. É preciso acolher e tirar as dúvidas dela, mostrando os benefícios da imunização", recomenda.

Para que a abordagem aos não vacinados seja mais efetiva, também é importante conhecer o perfil dessas pessoas. Está em curso uma pesquisa nacional realizada pelo Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina da UFMG, encomendada pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), para verificar os motivos para a hesitação vacinal no país – não somente sobre os imunizantes da Covid, mas sobre todos os presentes nos postos de saúde. A intenção é verificar a baixa na cobertura vacinal no país nos últimos cinco anos.

Pesquisador do Nescon, Lucas Wan Der Maas adianta que já foram colhidos dados com 2.300 moradores de diferentes regiões do país. Preliminarmente, já foi possível perceber que a grande maioria dos brasileiros confia nas vacinas como forma de prevenção individual e coletiva.

"Mas existem outras questões, como a complacência, quando a baixa percepção de risco para uma doença é um problema. Também observamos questão sobre medo de efeitos colaterais e medo de agulha. A preocupação com reação da vacina aparece com uma proporção relevante", relata o pesquisador, acrescentando que o receio sobre vacinas novas também está presente nas respostas de muitos entrevistados.

Wan Der Maas diz ainda que não se deve enxergar a pessoa que recusa as vacinas como alguém irracional, mas, sim, compreender o seu ponto de vista. "É natural que um pai ou uma mãe se pergunte sobre a segurança da vacina quando vai vacinar um filho. O nosso papel é mostrar que os benefícios da vacina".

Até o dia 7 de dezembro, a pesquisa realiza o Diálogo on-line (DOL) sobre cobertura vacinal, desinformação e hesitação. A participação é gratuita, aberta a todos os interessados e pode ser feita a qualquer momento durante o evento. A programação conta com fóruns, rodas de conversa e conferências sobre vacinação.

Vacinas são seguras e eficazes

Entre as pessoas que não se vacinaram, é comum ouvir um discurso de que existiriam casos de pessoas que foram hospitalizadas ou morreram após tomarem a vacina. Mas os números da pandemia mostram que, na verdade, os imunizantes salvaram milhares de vidas no Brasil. Em abril, o país chegou a contabilizar mais de 4 mil mortes por Covid em um dia, enquanto hoje a média diária está em 215. No país, mais de 300 milhões de doses foram administradas e não há qualquer relato de óbito pós-aplicação. A segurança foi garantida em estudos e na vida real.

"A atual pandemia é dos não vacinados. Mas a partir do momento em que a doença circula nos bolsões dos não vacinados, mesmo as pessoas imunizada