VIOLÊNCIA CONJUGAL É UM ATO 'QUASE SATÂNICO', AFIRMA O PAPA FRANCISCO

"Tantas mulheres que foram abusadas e agredidas dentro de seu lar, inclusive por seus maridos", declarou o pontífice

Foto: Reprodução

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A violência conjugal é um ato "quase satânico", afirmou o papa Francisco em uma entrevista à televisão italiana, durante a qual destacou a "dignidade" das vítimas, um número que aumentou durante a pandemia.

"Tantas mulheres que foram abusadas e agredidas dentro de seu lar, inclusive por seus maridos", declarou o pontífice em um programa especial exibido no domingo à noite pelo canal TG5, que convidou quatro pessoas com uma vida difícil para o encontro.

"Para mim, este é um problema quase satânico, porque é aproveitar-se da fragilidade de alguém que não pode se defender", declarou o papa durante a exibição de "Francisco e os invisíveis".

Em Minas Gerais, em média 16 mulheres são vítimas de violência doméstica a cada hora. Por dia, são ao menos 391 mulheres que passam por situações de ameaça à integridade física ou à honra.

Os dados, os mais recentes da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais), são referentes aos registros feitos no primeiro semestre deste ano. No período, 70.450 vítimas procuraram a polícia apenas no estado.

A média de notificações está 0,7% maior em relação ao primeiro semestre de 2020 e 6,45% menor em comparação aos registros feitos entre janeiro e junho de 2019.

No entanto, a delegada Larissa Mascotte, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Belo Horizonte, avalia que ainda não é possível garantir que houve uma redução de casos.

— É difícil falar com certa precisão se esses números indicam uma melhora ou se houve uma subnotificação neste período. Sobretudo por conta da pandemia, temos presenciado algumas mulheres que ficam mais coagidas dentro dos próprios lares devido à maior proximidade com o agressor. Muitas vítimas estão passando por dificuldades financeiras neste período, o que torna mais dificultosa a separação do companheiro.

A Lei Maria da Penha, criada para estimular a punição de casos de violência doméstica, completa 15 anos neste sábado (7). Mesmo com o avanço legal, alguns crimes são recorrentes. Entre eles, ameaças, lesões corporais, vias de fato e os crimes sexuais, destaca a delegada.

De acordo com a Sejusp, entre janeiro e junho de 2021, 67 mulheres foram vítimas de feminicídio no Estado. Outras 88 foram atacadas e sobreviveram. Larissa Mascotte alerta que, muitas vezes, a violência começa com torturas psicológicas.

— Muitas mulheres sequer têm consciência que vivem um relacionamento abusivo.

No vídeo abaixo, a delegada chama atenção para os sinais que as pessoas devem se atentar em meio a um relacionamento abusivo e detalha como denunciar crimes de violência doméstica em Minas Gerais. A gente destaca que não é preciso sair de casa para acionar a polícia, já que o Estado conta com uma delegacia virtual.


No programa, o pontífice conversou com uma mãe que teve que abandonar sua casa com os filhos para escapar da violência. "Vejo muita dignidade em você, porque se você tivesse perdido sua dignidade não estaria aqui", acrescentou o papa.

O número de casos de violência em casa aumentou com a crise de saúde e os confinamentos. Desde janeiro, 112 mulheres foram assassinadas na Itália, segundo o ministério do Interior, e na metade dos casos o responsável foi o marido, o companheiro ou um ex-companheiro.

O papa, que completou 85 anos na sexta-feira, criticou em várias ocasiões as violências contra as mulheres, que em 2020 classificou de uma "profanação".