PESQUISA APONTA QUE GERAÇÃO MILLENNIAL AMA MAIS CÃES E GATOS DO QUE FAMILIARES

Parente mais rejeitado é o irmão, seguido por mães, pais, avós, parceiros, tios e primos, conforme estudo feito nos EUA

Anna Vianello com os cães da raça golden - Foto: @apoloadventures/ Divulgação

Anna Vianello com os cães da raça golden �- Foto: @apoloadventures/ Divulgação

Você certamente já deve ter ouvido alguém dizendo que "cachorro é melhor que muita gente". E para várias pessoas nascidas entre 1981 e 1995, que integram a chamada geração dos millennials com idade em torno de 27 e 41 anos, o amor por cães e gatos supera, até mesmo, o sentimento nutrido por alguns familiares.

Pesquisa feita nos Estados Unidos pela Consumer Affairs mostra que 83% dos donos de cães dizem amar mais os animais do que pelo menos um familiar. Quando trata-se de gatos, o índice sobe um pouco e chega a 85%, aponta o levantamento. Em um balanço geral, sem distinção por espécie animal, o percentual que tem os bichos em primeiro lugar na lista de preferências afetivas é de 81%

Quando questionados dos familiares mais rejeitados, os participantes da pesquisa citam os irmãos, em primeiro lugar, com 57%. As mães figuram em segundo lugar (50%), seguidas por pais (41%), avós (31%) e parceiros (30%). Tios e primos aparecem na última posição, citados apenas por 12%.

A fotógrafa pet Anna Vianello, de 26 anos, é um exemplo da pesquisa. Para ela, os dois cachorros e a gata estão no mesmo nível de importância do marido, dos pais e da avó. "No geral eu prefiro a companhia deles (pets). Entre ir para a casa de algum familiar e fazer algo com eles, eu prefiro sair com eles, fazer uma trilha, ir em restaurantes pet friendly", explica.

A jovem diz que os cachorros a acompanhavam até mesmo em jogos de futebol, em um antigo projeto no Mineirão que separava um setor das arquibancadas para que os cães pudessem acompanhar os tutores nos jogos.

"A gente cria um vínculo e conexão que é muito diferente de tudo. É um amor genuíno em que eles oferecem tudo pra gente. Eles dão carinho sem querer nada em troca, não é aquele negócio humano que é sempre querer algo em troca do que foi oferecido", destacou.

No caso da turismóloga Ana Carolina Rocha, de 42 anos, as três cadelas são como filhos. Ela diz não preferir os animais ante as pessoas, mas pondera: "Que eles valem muito mais que muita gente por aí, isso sem dúvida", atesta. "Minhas cachorrinhas são minhas três filhas, dormem na cama comigo, almoçam junto com a gente, tenho como alguém da família", diz.

Rocha ainda diz que a relação que têm com os animais é diferente do que com humanos. "A relação com os bichinhos é muito honesta, sincera. Então hoje com a dificuldade de relacionamento que a gente vive, principalmente com esse mundo virtual em que é mais fácil se relacionar com as pessoas virtualmente do que pessoalmente, a relação com os pets fica mais próxima", complementa.

Companheiros de jornada

A também fotógrafa Gabrielle Martins, de 28 anos, é dona de um gato e um cachorro. Ela divide o lar com os dois animais e com a irmã e afirma que decepções tendem a ser mais comuns com as pessoas do que com os animais.

"Eles são obedientes, carinhos. Os cachorros por exemplo parecem que nasceram com dom de ser companheiros de jornada. O meu está sempre comigo, em todos momentos, igual um filho", afirma.

Mesmo morando longe da família, que habita em São Paulo, a protetora Rosângela Rocco, de 60 anos, de Betim, diz que não troca os parentes por animais, mas faz ressalvas sobre a relação com os bichos. "Tem gente que merece ser trocado porque tem cada coisa nesse mundo que não precisava nem estar", brinca.

Amor por pets impulsiona mercado

A paixão pelos animais de estimação e a necessidade de oferecer bons cuidados refletem na procura maior por planos de saúde veterinários e outros serviços. De acordo com a pesquisa, 49% dos entrevistados afirmam que podem obter um segundo emprego para pagar necessidades veterinárias de emergência dos animais. Ainda no estudo, 43% citam que poderiam vender TVs, enquanto 41% colocariam o notebook à venda.

Na Au!Happy, empresa mineira dedicada ao setor, o crescimento nas contratações de assistência em saúde voltada aos cães explodiu durante a pandemia. Segundo a diretora comercial da marca, Tatiane Marcelino, grande parte das pessoas que procuram o serviço têm entre 30 e 42 anos, ou seja, pertencentes à millennial.

"É uma alta procura e hoje nem é tão novidade o plano de saúde para o pet. O maior diferencial hoje é o atendimento a domicílio para fazer o atendimento com facilidade", conta. A empresa foi inaugurada pelo grupo mineiro First com um investimento de R$ 2,5 milhões. Os planos variam entre R$ 47,99 a R$ 157,90.

Impacto na fertilidade

Outro dado apresentado na pesquisa do Consumer Affairs diz respeito ao desejo de ter filhos. No levantamento, 58% das pessoas disseram que preferem ter um cachorro do que um filho. No caso dos gatos, o número é ainda maior, de 63%.

Ter tanta gente preferindo pets a filhos pode ser um problema para o Brasil, caso os números da pesquisa também possam ser conferidos por aqui. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) indicam que a população do país deverá crescer até 2047, quando chegará a 233,2 milhões de pessoas. Nos anos seguintes, haverá queda gradual, até chegar em 228,3 milhões em 2060.

Em 2060, um quarto da população (25,5%) deverá ter mais de 65 anos. Nesse mesmo ano, o país teria 67,2 indivíduos com menos de 15 e acima dos 65 anos para cada grupo de 100 pessoas em idade de trabalhar (15 a 64 anos).