GELEIRA DO "JUÍZO FINAL" ESTÁ POR UM FIO E AMEAÇA ELEVAR NÍVEL DO MAR

Cientistas afirmam que geleira Thwaites está se segurando "pelas unhas" e colapso dela deve trazer graves consequências ao meio ambiente

Foto: Reprodução

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Conhecida como a "geleira do Juízo Final", uma placa de gelo na Antártida Ocidental está pendurada "pelas unhas", segundo um estudo recente. O derretimento e o colapso da geleira Thwaites – maior que o estado da Flórida, nos Estados Unidos, é praticamente certo e a conta pode ser colocada nas mudanças climáticas.

Cientistas destacam que o aumento constante das temperaturas permite que correntes oceânicas quentes fluam pela base do grande bloco de gelo, desestabilizando-o e o fazendo se desprender da costa.

O grande problema é que o derretimento deve ser suficiente para elevar o nível do mar em até três metros. A destruição de comunidades costeiras seria uma das principais consequências.

Inclusive é daí que vêm os apelidos de "Geleira do Juízo Final", "Geleira do Fim do Mundo" ou "Geleira do Apocalipse", que remetem ao alto risco de colapso e ameaça ao nível global do mar.

Thwaites é uma das glaciares mais amplas do mundo. Tem quase 129 quilômetros de largura e tem sido o foco de preocupação há anos por especialistas. Um estudo de 2019, divulgado pela Agência Espacial norte-americana (Nasa) detalhou uma imensa cavidade no fundo da geleira Thwaites, de cerca de 59km² e quase 300 metros de altura. Era, sem dúvidas, um prenúncio do possível destino da geleira.

De acordo com a Nasa, a galeria pode contabilizar uma fração do manto de gelo da Antártida Ocidental, que contém gelo suficiente para elevar o nível do mar em até 4.8 metros. Conforme a crise climática avança, a região passou a ser foco de preocupação devido seu rápido derretimento e capacidade de destruição costeira generalizada.

Ponto de apoio frágil

Thwaites não é uma geleira comum. Ele contém gelo suficiente para elevar o nível do mar ao redor do mundo em quase um metro, representando uma ameaça para aproximadamente 40% da população humana que vive em regiões próximas do mar.

Sua existência é de extrema importância como um ponto de apoio e de bloqueio para os blocos de gelo atrás dela. Estes, se deslizarem para o mar, podem elevar as águas do oceano em cerca de dois metros e meio.

O estudo divulgado na Nature Geoscience demonstra o quanto a situação piora rapidamente, já que o bloco corre cada vez mais risco de queda à medida que o planeta continua a aquecer.

"Thwaites está realmente se segurando hoje pelas unhas", disse o coautor do estudo e geofísico marinho do British Antarctic Survey, Robert Larter, em um comunicado à imprensa. "Devemos esperar grandes mudanças em pequenas escalas de tempo no futuro – mesmo de um ano para o outro – quando a geleira recuar além de uma crista rasa em seu leito."

NASA/OIB/Jeremy HarbeckGeleira Thwaites Juízo Final 4
Cientistas afirmam que geleira Thwaites está se segurando "pelas unhas" e colapso dela deve trazer graves consequências ao meio ambiente em meio ao caos climático


Basta um chute para desmoronar

A pesquisa indica que a taxa mais recente de recuo da geleira do Juízo Final é mais lenta do que nos últimos anos. Embora isso possa parecer uma coisa boa, na verdade é um mau sinal. "Nossos resultados sugerem que pulsos de recuo muito rápido ocorreram na geleira Thwaites nos últimos dois séculos, e possivelmente até meados do século 20", explicou Alastair Graham, da Faculdade de Ciências Marinhas da Universidade do Sul da Flórida, e principal autor do estudo.

Ocorre que, enquanto a geleira vai diminuindo de tamanho, a quantidade de tempo antes de outro evento de derretimento rápido diminui. O estudo previu que a probabilidade de outro ocorrer "nas próximas décadas". "Apenas um pequeno chute em Thwaites pode levar a uma grande resposta", disse Graham.

A Geleira do Apocalipse preocupa os cientistas há décadas. Em 1973, cientistas analisaram se ela estava em alto risco de colapso. Quase uma década depois, foi descoberto que, como o bloco de gelo está aterrado no fundo do mar, as correntes oceânicas quentes podem derretê-la por baixo, a deixando instável.

A partir disso, os cientistas começaram a chamar a região ao redor da Thwaites de "o ponto fraco do manto de gelo da Antártida Ocidental".