CONSTRUTORAS APROVAM VOLTA DO MINHA CASA, MINHA VIDA, MAS PEDEM REDUÇÃO DE JUROS

Taxa Selic a 13,75% encarece os financiamentos imobiliários e pode travar o crescimento do setor que mais gera empregos no país desde 2020

Programa de habitação popular será retomado no país - Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil

Programa de habitação popular será retomado no país �- Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil

A volta do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, confirmada nesta terça-feira (3) pelo novo ministro das Cidades, Jader Filho, foi bem avaliada pelas construtoras e pelo mercado imobiliário. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Renato Ferreira Machado Michel, afirma que ele e outros empresários do setor se reuniram com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que prometeu R$ 10 bilhões em subsídios para ajudar a população de baixa renda a comprar a casa própria.

O mercado imobiliário, ao contrário de muitos outros setores, cresceu bastante em plena pandemia de Covid-19. Mas a maioria dos imóveis foi vendida para as classes média e alta. Muita gente procurou casas e apartamentos maiores e mais confortáveis, devido ao isolamento social. As taxas de juros mais baixas em 2020 e 2021 também alavancaram as vendas. "2021 foi o melhor ano da história para o setor, 2022 foi o segundo melhor e 2020, o terceiro. Estou muito otimista para o ano de 2023 e para os próximos", avalia Michel. Em 2020, a taxa básica de juros (Selic) no país caiu para 2% ao ano, menor índice desde 1999. Já em 2021, o Banco Central começou a subir os juros para controlar a inflação e a taxa chegou a 9,25%.

Um dos empecilhos para o desenvolvimento do setor pode ser o valor alto da Selic, que terminou 2022 a 13,75% ao ano e é usada como parâmetro para os financiamentos imobiliários. "A taxa de juros alta pode atrapalhar, mas acho que atingimos o pico e agora ela deve começar a cair", prevê o presidente do Sinduscon-MG.

Esta também é a visão da presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Cássia Ximenes. Ela também prevê boas vendas em 2023, mas com apoio do poder público. "O que impacta em relação ao governo são as ações relativas a incentivos para novas construções, regras de financiamento, formas de tributar os rendimentos provenientes da locação que encorajam ou não termos ofertas de imóveis para alugar", analisa.

A construção civil é um dos setores que mais empregam no Brasil, com 2,5 milhões de trabalhadores atualmente. De julho de 2020 a julho de 2022, foram criadas 600 mil novas vagas de trabalho no país, segundo o Sinduscon. O destaque ficou por conta da construção de prédios e edificações, mas o setor também contrata funcionários para obras de infraestrutura e de outros tipos.

Minas Gerais

Apesar do otimismo, o presidente do Sinduscon-MG espera que o Governo de Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte invistam mais em habitação popular nos próximos anos. "São Paulo tem o programa Casa Paulista e o Rio de Janeiro tem o Casa Carioca. Os dois Estados ajudam o governo federal e também estimulam a compra da casa própria", explica. Ele entende que Minas teve muitas dificuldades de investimento nos últimos anos devido à questão financeira, mas acredita que esta situação pode mudar com o equilíbrio das contas públicas.

Mesmo sem este apoio, Minas Gerais foi destaque na criação de vagas de trabalho na construção civil em 2022, ficando atrás apenas de São Paulo entre os Estados, segundo o Sinduscon. Belo Horizonte também se destacou como a segunda cidade que mais gerou empregos no setor no período, perdendo apenas para a capital paulista. Mas a atividade sofreu um desaquecimento no fim do ano na capital mineira. "Esperamos que a gente possa retomar o ritmo, pois o setor tem sido o grande motor da economia desde a pandemia", analisa Renato Ferreira Machado Michel.

Ainda sem fechar os números totais de vendas de imóveis em Belo Horizonte no ano passado, a CMI/Secovi-MG também já sentiu uma desaquecida na capital mineira. "Em BH, tivemos uma procura menor por imóveis em 2022 do que em 2021, que foi um ano atípico com um volume de vendas muito superior aos anos anteriores", diz Cássia Ximenes.

A presidente da CMI/Secovi-MG prevê aumento das vendas em 2023, mas faz uma ressalva no caso de Belo Horizonte. "Somos otimistas em relação ao movimento do mercado de forma geral. Para a capital mineira, especificamente, vai depender da prefeitura flexibilizar o prazo da transição do novo plano diretor, previsto para terminar no princípio de fevereiro, assim como rever os valores definidos para a outorga onerosa que poderão inviabilizar novos projetos dentro das novas normas", afirma.

O mercado imobiliário teme o impacto que uma possível redução generalizada do coeficiente de aproveitamento básico dos terrenos teria sobre o setor, como o encarecimento de lotes e de novos empreendimentos. A Prefeitura de Belo Horizonte não informou se vai haver mudanças no prazo de transição do antigo plano diretor para o novo.