PF INDICIA POLICIAIS QUE PARTICIPARAM DA OPERAÇÃO EM VARGINHA QUE RESULTOU EM 26 MORTES
Os policiais foram indiciados por homicídio qualificado, tortura e fraude processual, segundo informações obtidas pela CNN Brasil por meio de acesso ao relatório da PF. O documento narra detalhadamente a ação ocorrida no dia do crime, descrevendo a estratégia utilizada pelos agentes e os momentos que antecederam a tragédia.
A ação dos policiais
De acordo com o relatório, no início da manhã, por volta das 5h, o dispositivo policial já estava montado, com atiradores de precisão posicionados em locais estratégicos e militares alinhados próximo ao imóvel alvo. A ação teve início com a derrubada do portão principal do sítio por uma caminhonete da PRF. Em seguida, a equipe tática entrou no perímetro e iniciou os disparos contra as janelas da residência.
O delegado responsável pelo caso relatou que um grupo adentrou ao imóvel e começou a atirar indiscriminadamente nas pessoas presentes, que estavam recém-despertadas, desorientadas e sem entender o que estava acontecendo. Ao final da ação, 26 pessoas foram mortas e nenhum policial ficou ferido. A perícia constatou que foram efetuados aproximadamente 500 disparos pelos agentes do Estado, enquanto apenas 20 tiros foram atribuídos às armas dos supostos assaltantes.
O relatório da PF também levanta suspeitas de fraude processual e destaca a apresentação tardia de vídeos produzidos por drone que mostram os sítios onde ocorreu a operação antes das mortes dos suspeitos. A defesa técnica dos policiais rodoviários federais solicitou a inclusão desses vídeos no processo dois anos após o ocorrido, sem justificar o motivo dessa demora. A PF questiona por que essa evidência não foi entregue imediatamente às autoridades policiais e qual o conhecimento que os policiais tinham sobre essas imagens nos últimos dois anos.
Relembre o caso
No dia 31 de outubro de 2021, uma operação conjunta da PRF e da PMMG resultou na morte de 26 pessoas em dois sítios localizados em Varginha. A ação tinha como objetivo combater um grupo de assaltantes de bancos que planejava realizar um roubo no dia seguinte. Os criminosos eram provenientes de seis estados diferentes: Amazonas, Distrito Federal, Goiás, Pará, Rondônia e São Paulo.
Na época, a PRF considerou a operação um sucesso no combate ao crime organizado. No entanto, a reconstituição pericial revelou que algumas das pessoas mortas estavam desarmadas ou se escondendo debaixo de mesas. Essa informação levantou questionamentos sobre a conduta dos policiais envolvidos na operação.
Outro lado
A Polícia Rodoviária Federal respondeu, à CNN, por meio de nota, que a operação tinha como objetivo combater um grupo criminoso envolvido em atividades ilícitas e práticas de banditismo conhecidas como "Novo Cangaço". Segundo a PRF, durante a ocorrência, foi apreendido um grande arsenal, incluindo metralhadoras, fuzis, pistolas, explosivos e munições.
A PRF ressaltou o compromisso com os limites constitucionais e a defesa do estado democrático de direito, garantindo a presunção de inocência dos agentes e o direito ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa. A instituição afirmou que está colaborando com as autoridades competentes para esclarecer todos os aspectos da operação. Além disso, a Corregedoria-Geral da PRF reabriu um procedimento investigativo em 2023 diante do surgimento de novas evidências.