DEBATE NA GLOBO: LULA E BOLSONARO COMPARAM GOVERNOS E TROCAM ACUSAÇÕES; MENTIRAS, SALÁRIO MÍNIMO, ARMAS, JEFFERSON, MENSALÃO E VIAGRA SÃO TEMAS

Debate foi o último do segundo turno; votação será no domingo (30). No fim do primeiro bloco, quando Lula se afastava em direção à bancada, Bolsonaro pediu: 'Fica aqui, rapaz'; Lula retrucou: 'Não quero ficar perto de você'.

Foto: Reprodução

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Os dois candidatos à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), fizeram na noite desta sexta-feira (28), na TV Globo, o último debate do segundo turno das eleições. Eles compararam os períodos em que cada um esteve à frente do governo, trocaram acusações de corrupção e de mentiras e prometeram ganhos no salário mínimo.

O ex-deputado Roberto Jefferson, preso no domingo (23) após atirar contra a Polícia Federal, também foi tema do debate, assim como a compra de viagra pelo governo Bolsonaro para as Forças Armadas e a denúncia do mensalão no governo Lula.

A votação do segundo turno está marcada para o domingo (30).

Pelas regras do debate (veja detalhes mais abaixo), os candidatos podiam ficar em pé pelo estúdio e se movimentar enquanto falavam. Além disso, podiam distribuir como quisessem o tempo a que tinham direito em cada bloco, o que propiciou diálogos entre os candidatos.

No fim do primeiro bloco, ao terminar uma fala, Lula, que estava próximo de Bolsonaro, se afastou em direção à bancada. Nesse momento, Bolsonaro pediu para o candidato do PT ficar mais próximo dele.

"Fica aqui, rapaz", pediu Bolsonaro.

"Não quero ficar perto de você", respondeu Lula.

Acusações de mentiras

Uma das marcas do debate foram as acusações mútuas de "mentiroso" entre os candidatos.

Quando o tema foi combate à pobreza, Lula disse que 33 milhões de pessoas passam fome no país . Bolsonaro mencionou os valores pagos pelo Auxílio Brasil e pediu para Lula parar de mentir.

"No nosso governo, segundo Ipea, quem ganha até R$ 10 por dia está abaixo da linha da pobreza. Estamos oferecendo R$ 20 por dia. Para de mentir, Lula, pelo amor de Deus", disse o presidente.

Lula pediu direito de resposta e afirmou que Bolsonaro sabe "quem mente no país".

"Eu vou pedir [direito de resposta], vou dizer que aqui só tem um mentiroso chamado...Não vou dizer o nome para não ter direito de resposta. Vou repetir: quem mente nesse país, o senhor sabe quem é [...] Tem 33 milhões de pessoas passando fome nesse país, e hoje a Folha [jornal Folha de S.Paulo] alega que tem 24 milhões que não conseguem comprar alimento", disse Lula.

Durante uma discussão sobre reajuste do salário mínimo, os candidatos trocaram novas acusações.

Bolsonaro disse que o PT fez propagandas no horário eleitoral com informações mentirosas sobre medidas econômicas supostamente defendidas pelo governo.

"Então, ele [Lula] não responde, não quer dizer que não determinou que o programa eleitoral do partido dele falasse mentiras. Que eu não ia mais reajustar o salário mínimo, a aposentadoria, e que eu ia cassar férias, 13º e hora extra. Mentiroso", acusou Bolsonaro.

Lula rebateu dizendo que viu um dado de que Bolsonaro teria "mentido 6.489 vezes durante o mandato". O ex-presidente não detalhou a fonte da informação.

"Primeiro, o povo brasileiro sabe quem é mentiroso. Hoje, eu vi uma revista de fatos dizendo que ele mentiu 6.489 vezes durante o seu mandato. Só no programa de televisão dele, nós ganhamos 60 direitos de resposta por conta das mentiras dele", alegou Lula

Mais adiante no debate, em interação sobre política externa, Lula disse que o Brasil está isolado do resto do mundo. Bolsonaro voltou a chamar o ex-presidente de mentiroso.

"Mentiroso. Negociei fertilizantes com a Rússia. Imagina o Brasil sem fertilizantes. Onde ia parar a nossa segurança alimentar e a de mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo?"

Bolsonaro voltou a atacar o petista ao citar os títulos de terra concedidos durante sua gestão.

"Lula, olha só como você é mentiroso. Dei títulos para mais de 420 mil assentados, por que que você não dava título? Por que você usava esse pessoal para invadir terras por aí? Eu dei liberdade para essas pessoas, Lula", rebateu Bolsonaro

Lula afirmou que, quem entrega título é o Incra e que, no governo do PT, "disponibilizou terra para a produção de comida".

"Quem entrega título, na verdade, é um órgão do governo chamado Incra, o que eu fiz foi disponibilizar Terra para produzir comida nesse país e se voltar e tiver terra improdutiva, e tiver gente querendo trabalhar no campo, essa gente vai ter o direito de trabalhar no campo."

Acusações de corrupção e menção a Jefferson

O assunto da corrupção foi tratado em diversos momentos do debate.

O ex-presidente citou uma reportagem do portal UOL que afirmou que a família Bolsonaro comprou 51 imóveis com dinheiro vivo nas últimas décadas. Lula também mencionou as investigações de rachadinha contra os Bolsonaro.

Lula lembrou o escândalo de corrupção envolvendo o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, demitido do MEC após denúncias de que pastores com influência na pasta intermediaram repasses de dinheiro desviado para prefeituras.

"Só pegar o que a sua família fez. Só pegar a rachadinha, a quantidade de imóveis, só pegar o ministro da Educação que estava com os seus pastores colocando dinheiro no fundo de pneu. Você sabe disso. Quer continuar falando essas bobagens?", questionou o ex-presidente.

Bolsonaro rebateu Lula, mencionou os processos que o ex-presidente enfrentou durante a operação Lava Jato e o chamou de "bandido".

"Processo por corrupção para cima de mim, Lula. Qual é? Você foi descondenado, Lula, por um amigo do Supremo Tribunal Federal que achava que você devia ser julgado em Brasília, não em Curitiba. Você é um bandido Lula", disse o presidente.

Bolsonaro também falou sobre o esquema de corrupção do mensalão e tentou atrelar a imagem do ex-deputado federal Roberto Jefferson à do petista.

"Então, Roberto Jefferson explodiu o seu governo, o mensalão, atrás disso veio o petrolão, veio tudo, mais de 100 pessoas presas. Você mesmo, Lula, foi condenado em três instâncias por unanimidade, e só está aqui porque tem um amigo no Supremo Tribunal Federal", afirmou o candidato do PL.

O STF anulou todas as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato.

Lula mencionou que Jefferson é aliado de Bolsonaro nestas eleições e que o presidente tentou esconder o ex-deputado federal. Lula lembrou da agressão de Jefferson contra policiais federais no domingo (23).

"Ele acabou de tentar esconder o Roberto Jefferson, o pistoleiro dele. O homem das armas, o homem de confiança dele, o homem que recebeu a Polícia Federal a tiro e foi eu que escondi?", alegou Lula.

Bolsonaro rebateu lembrando que Jefferson foi o delator do mensalão, no governo Lula.

"Roberto Jefferson explodiu o seu governo, o mensalão. Atrás disso veio o petrolão, veio tudo, mais de 100 pessoas presas. Você mesmo, Lula, foi condenado em três instâncias por unanimidade", disse Bolsonaro.

Covid-19, investimentos na saúde e viagra

Lula fez críticas à gestão de Bolsonaro no tratamento da pandemia da Covid-19. Ele perguntou para o presidente os motivos que levaram o governo a "negar a doença e a vacina".

"O Brasil tem 3% da população mundial, entretanto, o Brasil tem 11% das vítimas de covid. Ou seja, três vezes mais do que a média. A pergunta que se faz é a seguinte: por que negligenciamento? Por que passar 45 dias negando a vacina? Por que negar a doença? Por que esconder o seu cartão de vacina?", questionou Lula.

"Vacina: nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina. No dia que a Anvisa autorizou, no mesmo dia começou a aplicar a vacina no Brasil", afirmou.

Lula ainda criticou a compra pelas Forças Armadas de mais de 35 mil unidades de sildenafila, medicamento conhecido pelo nome comercial de viagra.

O presidente disse, em resposta, que o "viagra é usado para vários tratamentos [...] O viagra é usado para tratamento de próstata".

Sobre os investimentos na Saúde, Lula perguntou a Bolsonaro o número de ambulâncias compradas e de hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS) construídos nos últimos quatro anos.

"Você lembra quantas ambulâncias você comprou? Você lembra quantos hospitais você fez? Lembra quantas UBSs você fez? Não lembra porque não fez. A única coisa que você fez foi negar a vacina no tempo certo e permitir que mais de 300 mil pessoas morressem sem necessidade nesse país, e um dia você pagará por isso", disse Lula.

Bolsonaro fez referência à construção de estádios de futebol para a Copa de 2014 para dizer que o petista não investiu em hospitais.

"Saúde não se faz com estádio de futebol. Foi uma roubalheira sem tamanha que você patrocinou no passado. O teu governo, Lula, fechou 40 mil leitos de hospitais. Metade de pediatria. Então, se eu ficar discutindo números aqui, não vai dar para chegar a um bom termo comigo. Uma diferença enorme entre nós dois."

Salário mínimo

Logo no início do debate, o primeiro tema que surgiu na interação entre os candidatos foi o salário mínimo.

O assunto ganhou espaço na campanha nos últimos dias, depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que pretendia desvincular o salário mínimo da inflação. A declaração serviu de munição para a campanha de Lula dizer que Bolsonaro quer dar reajustes abaixo da inflação. A equipe governista se apressou em dizer que pretende reajustar o mínimo acima da inflação.

Bolsonaro questionou Lula sobre os ataques que o PT fez nas propagandas eleitorais a respeito do assunto e aproveitou para anunciar, apenas a dois dias da eleição, um salário mínimo de R$ 1,4 mil.

"Posso anunciar que, a partir do ano que vem, o novo salário mínimo será de R$ 1.400. Mas ao longo dos últimos dias, o seu partido foi com toda vontade na televisão e nas inserções de rádio dizer que eu não ia reajustar o mínimo, as aposentadorias e que eu ia acabar com o 13º, as férias e com as horas extras. Tu confirma isso?", perguntou o presidente.

O ex-presidente respondeu que não tinha tempo para ver "programa de televisão".

"Eu não vim aqui para responder para o candidato, eu vim para conversar com o povo brasileiro. E quero dizer em alto e bom som: durante quatro anos, esse homem governou o país e não deu 1% de aumento no salário mínimo. Governou quatro anos e não deu um aumento para a merenda escolar, que hoje é de apenas R$ 0,36. Essa é a verdade, e o povo sabe porque está sentindo na carne", afirmou Lula.

No segundo bloco, o tema voltou na conversa entre os candidatos. Lula disse que quem falou em dar reajustes ao salário mínimo foi o ministro Paulo Gudes.

"Quem falou foi o seu deus, Paulo Guedes", afirmou Lula.

"O Guedes não falou isso, não", respondeu Bolsonaro.

Bolsa Família x Auxílio Brasil

Lula e Bolsonaro trocaram críticas sobre os programas voltados às famílias em situação de extrema pobreza e pobreza.

O candidato do PL perguntou a Lula "por que ele pagava tão pouco" aos beneficiários do Bolsa Família.

"Já que você se julga o pai dos pobres e a tua economia tão bem, por que você pagou tão pouco aos beneficiários do Bolsa Família? Em média 190 em valores corrigidos. Por que Lula?", apontou Bolsonaro.

Lula respondeu que era uma "bobagem" comparar os dois programas e citou outras políticas de assistência criados nos oito anos à frente da presidência da República:

"É uma bobagem comparar o Bolsa Família com o Auxílio Brasil, porque o Bolsa Família era apenas um dos programas da política de distribuição de renda que nós fazíamos."

No governo de Bolsonaro, os beneficiários do Bolsa Família passaram a ser atendidos pelo Auxílio Brasil – a versão repaginada do programa social criado em 2003.

Hoje, o Auxílio Brasil prevê o pagamento de R$ 600 aos beneficiários. A proposta do Orçamento para 2023 prevê valor de R$ 400, em vez dos R$ 600 que serão pagos até o fim de 2022.

Visita ao Complexo do Alemão e armas

O presidente criticou o evento de campanha de Lula no Complexo no Alemão , no Rio de Janeiro. O petista foi ao local no início do mês.

"Lula, você esteve no complexo do Alemão esses dias. Não foi para ver o povo trabalhador, o povo ordeiro, 99% ou mais da população, cidadãos de bem. Você esteve lá se encontrando com os chefes do narcotráfico, os chefões. Ninguém entra lá sem estar acompanhado da polícia", afirmou Bolsonaro.

O presidente também fez ataques à campanha do ex-presidente de "desarmar o país":

"E essa campanha de desarmar o país? Você propôs aos chefes do tráfico entregar fuzis? Ou quis apenas fazer média com os chefes do tráfico para ganhar o voto do pessoal da comunidade?"

Bolsonaro também citou a redução da violência no seu governo e afirmou que, na gestão petista, os homicídios cresceram 30%.

"Violência comigo diminuiu bastante. No seu governo só subiu [...] Aumentou em média 30% os homicídios no Brasil", disse o presidente.

Lula afirmou que "visitou gente extraordinária".

"Eu fui ao Complexo do Alemão visitar gente extraordinária, porque eu sou o único presidente da República que tenho coragem e moral de entrar numa favela, antes e depois, ser tratado como ser humano e tratar todo mundo com respeito. Todo mundo ali, gente trabalhadora extraordinária, que quer chance de estudar, que não quer ser vitimado pela polícia feroz", completou Lula.

Mandato de 'deputado'

No final do debate, quando fazia as considerações finais, Bolsonaro cometeu um lapso e disse que está pronto para mais um mandato de "deputado". Ele se corrigiu logo em seguida e disse: "presidente".

"Muito obrigado, meu Deus, e se essa for a sua vontade, estarei pronto para cumprir mais um mandato de deputado federal... presidente da República", disse o presidente.

Regras

Nesta edição, os candidatos tiveram que administrar o próprio tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. O tempo pôde ser utilizado e dividido da maneira como cada candidato preferiu, poder ser 'guardado' de um bloco para o outro.

Nesse sistema, se o candidato tiver direito a 15 minutos totais em um bloco e usar 1 minuto para a pergunta, vai dispor dos demais 14 para fazer a tréplica, novos questionamentos ou responder questões feitas pelo adversário.

O debate foi dividido em cinco blocos, dois com temas livres e outros dois com temas determinados. No último bloco, os candidatos fizeram as considerações finais.