AO INVESTIGAR ASSÉDIO ON-LINE A MENINA DE 9 ANOS, POLÍCIA DESCOBRE QUE AUTOR DAS MENSAGENS ERA OUTRA CRIANÇA EM MG; DELEGADA ALERTA PARA ABANDONO DIGITAL

Menino de 10 anos de Araxá enviou mensagens de cunho sexual por meio do chat de um jogo on-line e contou aos policiais que aprendeu as palavras em uma rede social.

Abandono digital pode colocar crianças em risco, explica delegada ?- Foto: Getty Images/Via BBC

Abandono digital pode colocar crianças em risco, explica delegada ?- Foto: Getty Images/Via BBC

A Polícia Civil cumpriu, na última terça-feira (13), um mandado de busca e apreensão em Araxá para investigar o envio de mensagens de cunho sexual pela internet a uma menina de 9 anos que mora em Campinas (SP). No entanto, quando chegaram à casa do suposto assediador, descobriram que o autor dos textos, na verdade, era um menino de 10 anos.

Segundo a Polícia Civil, esse caso é um exemplo do chamado abandono digital. De acordo com a delegada de Orientação e Proteção à Família de Araxá, Paula Lobo Rios Dib, esse fenômeno ocorre pela falta de atenção dos pais com os filhos no ambiente virtual, o que expõe crianças e adolescentes a vários riscos, que vão desde o bullying até a violência sexual.

"Você não deixaria seus filhos na calçada sozinhos, não é? Ou conversar com estranhos, ou ficar em um lugar que você não conhece, ou ficar próximo pessoas que já cometeram algum tipo de violência infantil, seja sexual ou física. Então, a internet tem que ser vista da mesma forma", explicou a delegada.

"Na internet, você não tem controle de quem que seus filhos estão conversando. Você não tem controle se eles vão sofrer algum tipo de violência verbal de violência sexual", disse.

No caso das crianças de Araxá e Campinas, os dois se comunicavam por meio de um jogo on-line que permite a comunicação entre os usuários por chat. Aos policiais, o menino disse que havia aprendido o conteúdo sexual em uma rede social de vídeos curtos.

"As crianças que têm acesso ilimitado a esses recursos acabam reproduzindo esses comportamentos adultos. Algumas crianças e adolescentes não passam pela fase da infância. Eles se comportam como adultos, falam como adultos, e acabam perdendo essa fase e até tendo comportamentos criminosos", alertou Dib.

Durante a investigação, os pais também foram orientados sobre os riscos do ambiente virtual para as crianças caso não haja um acompanhamento adequado. A delegada explicou que, em casos extremos, os responsáveis pelos menores podem responder criminalmente por abandono de incapaz.

"Nesse caso, se configurar uma negligência que pode causar um dano, pode ter a responsabilidade dos pais no aspecto criminal e eles podem ser enquadrados em um delito de abandono de incapaz por estar deixando de olhar com quem que esses filhos estão conversando, o que leva a ocorrência de um crime", concluiu.