ONDAS DE CALOR EXIGEM CUIDADOS PARA O BEM-ESTAR DOS ANIMAIS; VEJA QUAIS SÃO

Para ajudar o rebanho, produtor precisa fornecer água e sombra abundantes - Foto: Wenderson Araujo/CNA

Para ajudar o rebanho, produtor precisa fornecer água e sombra abundantes �- Foto: Wenderson Araujo/CNA

É possível que o país enfrente uma nova onda de calor no início de dezembro, segundo meteorologistas. Especialistas em bem-estar e saúde animal alertam que esses períodos de calor intenso — cada vez mais frequentes — podem ser letais para bovinos, suínos e aves, que necessitam de cuidados especiais.

Nos bovinos, alerta Alexandre Pedroso, proprietário da Plenteous Consultoria, o efeito imediato do estresse térmico é a redução da produtividade desses animais, que podem render até 40% menos leite ou parar de ganhar peso.

Pedroso explica que o grande problema está dentro dos ruminantes: o sistema digestivo desses animais produz muito calor ao processar o alimento ingerido. Assim, é comum que os bovinos passem a comer menos para tentar reduzir a temperatura.

Outro problema é que o calor exige que o corpo dos animais gaste mais energia para equilibrar a temperatura corporal, que orbita entre 38ºC e 39ºC. "É como quando a gente tem febre e se sente mais fraco. Há um custo metabólico para manter a temperatura, e o calor extremo também gera mais processos inflamatórios, que também consomem nutrientes", compara.

Segundo o especialista, o calor também pode provocar perdas embrionárias e abortos espontâneos em vacas que estão na fase inicial da gestação. "E a ciência já mostrou que os bezerros das vacas atingidas no final da gestação têm taxas de sobrevivência menores e tendem a ser menos produtivos ao longo da vida", diz.

Em relação à dieta dos bovinos, uma recomendação é fornecer fibra de melhor qualidade, que vai reduzir o esforço do animal para digerir o alimento e, logo, a produção de calor. Suplementos ricos em gordura e aditivos à base de leveduras também ajudam nesse sentido.

"São produtos que custam caro. Mas, quando colocamos o prejuízo na balança, na imensa maioria das vezes, valeria a pena investir, porque esses produtos dão retorno positivo", defende Alexandre Pedroso.

Suínos

De acordo com Osmar Dalla Costa, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, as ondas de calor prejudicam significativamente a cadeia produtiva de suínos. "O índice de produtividade pode ser comprometido, pois costumam diminuir as taxas de natalidade e aumentar as taxas de mortalidade dos animais", alerta.

Osmar explica que, assim como os seres humanos, os suínos tendem a reduzir a alimentação e ficam sem ganhar peso em dias com temperaturas muito altas. "Dessa maneira, eles acabam desviando energia e nutrientes para tentar manter a temperatura corporal", acrescenta.

Um projeto ideal de ambiência na granja de suínos é essencial para garantir bem-estar e produtividade. "Boa parte das novas granjas já tem uma previsão da ambiência interna, com espaços climatizados, mantendo a temperatura em níveis de uma zona de conforto para os animais. Nesses casos, os suínos não têm os efeitos do estresse térmico e evitam-se as perdas significativas na produção", pontua o pesquisador.

No caso dos suinocultores que ainda têm instalações antigas na propriedade, Osmar sugere alguns procedimentos para amenizar as consequências do calor para os animais. Entre eles está a instalação de ventiladores nebulizadores. "Esses equipamentos vão retirar o ar quente e umedecer os ambientes, diminuindo a temperatura dentro das instalações". Se não for possível, ventiladores grandes podem melhorar um pouco o conforto no ambiente, uma vez que ajudam o ar a circular.

Outra prática é a instalação de mangueiras em cima das baias, para um sistema conta-gotas de água. Com isso, o piso vai umedecendo, o que ajuda a melhorar o meio ambiente e a temperatura do local.

A médica veterinária Ana Paula Gonçalves Mellagi, presidente da Associação Brasileira de Veterinários Especialistas em Suínos - Regional Rio Grande do Sul (Abraves-RS), explica que deve ser dada atenção maior às fêmeas, principalmente às lactantes. "Essas fêmeas têm uma exigência de zona de termoneutralidade que varia de 12º C a 16º C, com limite máximo entre 18º C a 20º C. Mesmo na região Sul, é uma temperatura bem difícil de manter durante as estações mais quentes", comenta.

Já os leitões recém-nascidos têm uma zona de termoneutralidade de 28º C a 30º C. "A maternidade é um ambiente para duas faixas etárias bem críticas", acrescenta Ana Paula. Por isso, as instalações são pensadas para garantir uma zona de conforto para as fêmeas, com a criação de microambientes para os leitões, nos quais é implantado um sistema de aquecimento quando necessário.

Aves

Para Fernando Vado, responsável pela área na C.Vale, na busca por bem-estar na produção de aves, "diversos detalhes devem ser ajustados em dias com temperaturas que fogem de média", como é o caso neste ano. Segundo ele, é possível, através do uso correto e consciente de tecnologias, promover o bem-estar animal mesmo com este cenário.

"A primeira preocupação deve ser estrutural e ser decidida lá atrás, já na criação do espaço. Com é direito alto, fechamentos, sombrios e até mesmo a escolha dos materiais de construção, que permitam acondicionamento térmico natural".

Na C.Vale, Fernando conta que estão disponíveis três sistemas de condicionamento térmico. O primeiro é a utilização do vento, via placas exaustivas nas extremidades dos aviário, para criação de vento e fresco; placas evaporativas, para refrescar a artir da água; e nebulizadores, que visam diminuir a sensação térmica por meio de vapor d'água. A utilização desses recursos consegue diminuir em até 10ª C a sensação térmica do aviário.

Como nem todos os produtores possuem recursos para investir em aviários de última geração, a Embrapa recomenda algumas atividades diárias, como o uso de ventiladores, nebulizadores, água de boa qualidade e a retirada da ração nas horas mais quentes do dia.

A água é uma grande aliada para diminuir o estresse calórico das aves. Segundo estudo da Embrapa, a temperatura da água deve ser de 12 a 15 graus para ter resultados positivos. "O animal que não bebe água tem mais dificuldades de controle de temperatura, por isso é importante que a água seja fresca e potável. Para manter essa temperatura podemos usar gelo dentro da caixa de água, propiciando uma água de melhor qualidade às aves".

A restrição alimentar também é uma saída para os aviários que dispõem de equipamentos automáticos. Nos períodos de maior calor, é planejado uma redução alimentar durante o dia na tentativa de diminuir o calor metabólico.

"Quando a ave ingere ração ela produz calor, agregando esse calor ao calor externo diurno do verão. Em um aviário não climatizado as perdas são grandes", diz nota da Wmbrapa.

A restrição alimentar funciona da seguinte maneira: é retirada a ração das aves no período das 8h às 17h, porém deve-se oferecer água à vontade. Para compensar essa restrição do dia, é aplicado um programa de luz intermitente à noite, quando normalmente as temperaturas são mais baixas. Assim, compensa-se o que as aves não consumiram durante o dia. A cada duas horas de escuro deve-se fornecer uma hora e meia de luz. Para facilitar esse processo já existem temporizadores automáticos.

Pesquisa da Embrapa indica ainda que o produtor faça um acompanhamento contínuo para que os ventiladores e nebulizadores sejam ligados antes que as ondas de calor se elevem e não se tenha mais como controlá-las. "Quando chegar a uns quatro ou cinco graus da temperatura de termoneutralidade das aves, os equipamentos já devem ser ligados."

A temperatura de conforto térmico da ave na primeira semana de vida fica em torno de 30 a 33 graus. À medida que a ave cresce, esse sistema termorregulador se desenvolve e a temperatura de conforto reduz três graus a cada semana. "Sendo assim, quando a ave alcançar os 35 dias, a temperatura de conforto é de 22 graus. Se o calor for maior que isso, as perdas podem ser grandes", diz o material.