VW GOL SAI DE LINHA COMO O CARRO MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA DO BRASIL

Hatch se aposenta depois de 42 anos e 8,5 milhões de exemplares produzidos

Ilustração

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Carro novo mais vendido da história do Brasil. Líder de vendas por 27 anos consecutivos. Carro usado mais vendido do país. Carro mais produzido da indústria automobilística brasileira. É indiscutível o fato de que o Volkswagen Gol, além de todos esses feitos já citados, é o carro mais importante do nosso país.

E agora, em dezembro de 2022, deixa de ser produzido após 42 anos e 8,5 milhões de unidades fabricadas. As últimas a saírem da fábrica de Taubaté (SP) não serão da série Last Edition, limitada a 1.000 exemplares, mas sim da única versão disponível atualmente, que não tem sequer um nome – é vendida apenas como 1.0.

Mas o Gol não se aposenta "em baixa", apesar de um fim de carreira conturbado. O hatch deve terminar 2022 como um dos 10 carros mais vendidos do Brasil, com mais de 70 mil exemplares emplacados.

E as grandes responsáveis por manter o status "pop" do Gol são locadoras e frotistas. Entre janeiro e novembro, três em cada quatro exemplares do hatch foram vendidos a empresas.

E como a Volkswagen já não dispõe do Gol em sua frota de imprensa há alguns anos, a AutoEsporte descolou um exemplar com uma cliente da marca – a locadora Movida, que nos cedeu o exemplar branco 2022/2023 das fotos.

Sem opcionais, o Gol emprestado pela locadora é vendido atualmente por R$ 78.160 – valor considerado elevado pelo pacote de equipamentos. De série, há ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, chave do tipo canivete, desembaçador do vidro traseiro, painel com conta-giros, vidros dianteiros e travas elétricos.

A direção hidráulica entrega a idade do projeto. Afinal, o Gol está na mesma geração desde 2008. Mas ao volante, a tecnologia obsoleta não chega a dificultar a vida do motorista. Mesmo em manobras em baixas velocidades, o volante não é tão pesado quanto se pode imaginar.

O Gol ainda é oferecido com três opcionais: rodas de aço com calotas de 15 polegadas por R$ 330, sistema de som com Bluetooth e entradas USB, auxiliar e SD-card (R$ 1.500) ou um pacote que adiciona computador de bordo, chave com controle remoto, volante com ajustes de altura e profundidade, destravamento elétrico do porta-malas, retrovisores com ajustes elétricos e luzes direcionais integradas, faróis de neblina, rodas de liga leve de 15 polegadas, volante multifuncional, som com tela sensível ao toque e vidros elétricos traseiros. O preço? R$ 8.470, que elevam a conta para R$ 86.630, mais do que um Polo, sucessor do Gol.

Como o exemplar cedido não dispunha desses itens – e pagar quase R$ 90 mil por um Gol com esses itens parece pouco racional, vamos seguir a avaliação do carro que testamos.

E é muito fácil identificar defeitos e virtudes do veterano.

Um dos pontos fracos mais conhecidos é o elevado custo do seguro. Em levantamento feito pela Minuto Seguros, a apólice do Gol foi orçada em R$ 5.266, o dobro do preço de um Fiat Argo, por exemplo. O espaço acanhado também desagrada. Com 3,89 m de comprimento e 2,47 metros de entre-eixos, o Volkswagen só acomoda com algum conforto quatro adultos.

O acabamento é simples, com poucas texturas e muito plástico duro. Mas as seguidas atualizações promovidas pela Volkswagen deixaram a cabine relativamente moderna e com desenho contemporâneo. A alavanca de câmbio, por exemplo, é a mesma usada no Polo de entrada.

A ergonomia (como em qualquer carro da Volkswagen) é muito boa. Todos os comandos estão à mão e a visibilidade é exemplar.

Ao volante, o Gol mostra que ainda é superior aos carros de entrada disponíveis atualmente no Brasil (leia-se Renault Kwid e Fiat Mobi). Apesar de um leve desalinho do volante em relação ao banco e pedais, guiar o hatch compacto não causa dores nas costas depois de horas – o banco acomoda bem o corpo e tem densidade adequada.

Já o motor 1.0 de três cilindros e 84 cv dá ao Gol a honra de se despedir como um dos hatches mais velozes do segmento. Segundo a fábrica, o hatch de 1.009 kg acelera de 0 a 100 km/h em 13,4 segundos e alcança os 164 km/h. O câmbio manual de cinco marchas ainda proporciona ao motorista algum prazer ao dirigir — característica que deixará boas recordações depois que o Volkswagen sair de linha.

O mesmo vale para o apetite comedido para combustível. Mesmo 14 anos após ser lançada, essa geração do Gol consegue ser econômica – bebe só um pouco mais do que o "irmão moderno", Polo e menos do que outros concorrentes, como Citroën C3 e Hyundai HB20. Na cidade, o Volkswagen marca 9,4 km/l e 13,7 km/l, considerando, nessa ordem, etanol e gasolina. Na estrada, os números sobem para 10,7 km/l e 15,2 km/l, respectivamente.

Quando você estiver lendo esse texto, a fábrica da Volkswagen em Taubaté já vai ter produzido os últimos exemplares do Gol. O estoque das lojas ainda deve ser suficiente para novos emplacamentos até meados de 2023. Mas o legado construído ao longo das últimas décadas certamente fará com que o Gol seja lembrado por muito tempo como um ícone da indústria nacional.