PIB DO BRASIL EM 2023 NÃO É CONSIDERADO DE QUALIDADE MESMO COM CRESCIMENTO

Foto: Ilustração

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O bom desepenho do PIB do Brasil, que no acumulado dos primeiros nove meses de 2023 teve alta de 3,2% contra o mesmo período do ano passado, não é considerado de qualidade. Na avaliação de analistas, faltam bases sólidas para garantir a continuidade desse crescimento econômico no próximo ano, como melhoria da produtividade e da questão fiscal, além do aumento de investimento.

A avaliação foi feita em entrevista ao podcast O Assunto pela economista Juliana Inhasz, professora do Insper, e pelo jornalista Vinicius Torres Freire, colunista do jornal Folha de S.Paulo e mestre em administração pública pela Universidade Harvard.

Nesta terça-feira (8), a divulgação do crescimento de 0,1% do PIB no 3º trimestre de 2023 foi recebido como um copo pela metade. O lado meio vazio indica uma desaceleração brusca em relação ao trimestre anterior, que cresceu 0,9%. O lado meio cheio é o desempenho acima do esperado pelo mercado, que projetava resultado negativo.

"O resultado numérico, se a gente pegar provavelmente uns 3%, alguma coisa perto disso que a gente vai chegar em 2023, é um resultado bom. O que me preocupa é a qualidade desse PIB. É como o sujeito que baixou o colesterol, mas continua comendo mal", diz Juliana Inhasz.

Segundo ela, é possível identificar uma recuperação da economia, inclusive, frente aos últimos anos, o que é positivo. No entanto, Juliana faz uma ressalva.

"O problema é 2024, justamente porque a gente ainda não está conseguindo criar uma base de crescimento sólido, com melhoria inclusive em capacidade reprodutiva, em produtividade, com melhorias no lado fiscal que consigam garantir expectativas melhores", afirma a economista.


Estagnação e 'alguma recuperação'

Vinicius Torres Freire explicou que as previsões para o terceiro trimestre deste ano estavam erradas, com base nas informações que existiam sobre taxa de juros e crescimento, por exemplo. Segundo ele, o esperado era estagnação.

"A gente vai ter dois trimestres ou três de estagnação, e alguma recuperação em 2024. Dentro que o Brasil vinha vendo, 3% [de crescimento anual] é ótimo. O problema é manter esse ritmo, e eu acho que a gente não vai manter", diz o jornalista.

O jornalista apontou ainda o baixo índice de investimento, que atualmente está em cerca de 16,6% do PIB - o percentual representa quanto se usa do PIB para investir. Ele lembra que este índice, que está caindo no país nos últimos quatro trimestres, poderia ocorrer com novas construções, instalações produtivas, máquinas, equipamentos e softwares.

"O investimento é o que poderia fazer a economia crescer um pouco mais ano que vem, e eu não estou vendo impulso para uma retomada de investimento. Eu não estou vendo isso pro ano que vem", diz.

Juliana Inhasz destaca que o baixo investimento indica que "a gente não está conseguindo criar uma estrutura, uma forma de acumular capital e investimento para que a gente tenha capacidade produtiva adequada ao longo do tempo".

"O que a gente sabe de vários estudos acadêmicos é que para que a gente consiga crescer mais ou menos 4% ao ano durante 10, 15 anos, esse investimento tinha que ser pelo menos na casa de 25% [do PIB]", explica.